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Os desafios enfrentados pelos deficientes físicos

 

É visivelmente precária a inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais na sociedade brasileira

No Brasil, hoje, o nível de discriminação por parte do resto da sociedade com os deficientes físicos ainda é evidente pois, entre outras coisas, lhes faltam oportunidades de emprego. De acordo com uma pesquisa feita pela Fundação de Mobilidade Toyota, organização criada para discutir o tema da acessibilidade, cerca de 92% dos deficientes físicos passam ou já passaram por alguma adversidade em sua área profissional por conta de sua cadeira de rodas.

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O levantamento foi feito com 575 pessoas que usam a cadeira de rodas para se locomover no Brasil, Estados Unidos, Índia, Reino Unido e Japão. Em nota para o programa, o diretor de programas para a Fundação de Mobilidade Toyota, Ryan Klem, disse: “Milhões de pessoas em todo o mundo são incapazes de trabalhar ou de ser tão produtivas devido aos seus atuais dispositivos de mobilidade. Há claras implicações sociais e econômicas que destacam a necessidade urgente de inovação no campo da tecnologia assistiva”.  

Fonte: Toyota Mobility Foundation

Terezinha Teixeira é coordenador do Programa de Apoio Psicopedagógico (PAP) da Universidade de Fortaleza (Unifor). Ela acompanha de perto certas situações enfrentadas pelos cadeirantes e traz o olhar de uma profissional sobre essa questão.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2015 mostram que 6,2% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, sendo elas classificadas em quatro tipos: visual, auditiva, intelectual e física. O estudo mostra que 1,3% desse total é composta por pessoas portadoras de deficiência física e quase metade desse número tem grau intenso ou muito intenso de limitações.

 

De acordo com o Censo Escolar de 2015, o número da evasão escolar dos cadeirantes, devido à dificuldade que encontram no trajeto casa/escola, é próximo a 25%, ou seja, os jovens deixam de estudar por conta do seu fator de mobilidade, e as políticas públicas que deveriam abraçar essa questão é tão precária que torna-se apenas teoria.

Legislação

Entretanto, as tentativas de inclusão de portadores de deficiência são percebidas. A cota de pessoas com deficiência (PcD), lei de contratação de deficientes nas empresas, deferida em 1991 na lei nº 8.213, art. 93, diz que a empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher o percentual da cota de dois a cinco por cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados, ou pessoas com deficiência, na seguinte proporção:

 

- até 200 funcionários.................... 2%

- de 201 a 500 funcionários........... 3%

- de 501 a 1000 funcionários......... 4%

- de 1001 em diante funcionários... 5%

 

Nesse contexto, existe também a lei nº 10.098/2000 que tem o intuito de desenvolver a total inclusão sob os espaços públicos, edificações, transportes e equipamentos providos no país.

A legislação foi feita para garantir que lugares específicos preservem essa acessibilidade para que os deficientes físicos consumam a total mobilidade urbana. Os estacionamentos devem disponibilizar, no mínimo, 2% do número total de vagas aos cadeirantes, devidamente reservadas e sinalizadas.  As edificações, sejam elas públicas ou privadas, devem ter facilidade de acesso ao interior do prédio, trajetos na vertical (rampas) e horizontal que interliguem todos os espaços do local e, pelo menos, um banheiro acessível. Os elevadores também se fazem essenciais, pois oferecem um acesso rápido e eficiente a todos no ambiente do prédio. Parques e locais públicos devem ser construídos para a maior facilidade de movimento aos cadeirantes, o que infelizmente não é seguido à risca.

Experiências vividas

Ana Beatriz, 20, é deficiente física desde os 14 anos e reclama que as rampas estruturadas na praça perto de sua casa são inadequadas: “São muito mal feitas, muito inclinadas e estreitas. Parecem as rampas da minha casa, feitas pelo seu Zé”, ela conta, remetendo ao fato das rampas da praça, supostamente planejadas por arquitetos formados parecerem a de sua casa, feita pelo pedreiro faz-tudo da vizinhança.

 

Quanto à acessibilidade dos locais em geral, ela relata que sempre procura na internet se o lugar é adaptado, as informações afirmam que sim, mas, ao chegar ao local, a situação é contrária: “Cansei de procurar no Google e o local dizer que é adaptado, e quando chego lá não é”, diz Ana.

 

Os transportes públicos devem conter os equipamentos técnicos de suporte estabelecidos por lei para o acesso dos cadeirantes. Segundo David Brasilino, 41, que é agente de trânsito e atleta paralímpico: “Pela lei, meios de transporte, sejam terrestres, aquáticos e aéreos, têm que ser adaptados para cadeirantes. Paradas de ônibus e estações de metrô têm que ser adaptados também, além da obrigação da parada para cadeirantes”.

 

David se submeteu a um procedimento cirúrgico para extrair um tumor medular em 2004 e a partir de então se locomove com cadeira de rodas. Integrante da seleção brasileira Parapan jogando tênis de mesa desde 2009, ele se diz privilegiado em ter tamanha responsabilidade “mesmo diante de tanta limitação poder ser atleta de alto rendimento e poder representar mais de 60 milhões de brasileiros” diz ele.

Atleta de fisiculturismo há 10 anos, Marcos Reges sofreu um acidente que o deixou paraplégico. Tudo na sua vida mudou, inclusive a forma de inclusão na sociedade.

 

Vera Lúcia, 57, é deficiente física e graduanda de psicologia. Ela conta sobre suas dificuldades envolvendo o transporte público, sua condição de cadeirante.

 

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Em contrapartida, ela elogia a disposição dos motoristas em manusear o elevador de acesso ao ônibus, mas nem todos a bordo a recebem tão gentilmente: “Já ouvi alguém dizer que ia atrasar a viagem por causa da demora no embarque da cadeirante”, ela relata.

 

Quando perguntada sobre o que ela acha que deveria acontecer para a inclusão no transporte ser 100%, Vera responde que “precisaria de uma outra pessoa para manusear o elevador de acesso, pois hoje ficou na dependência só do motorista”, citando a exclusão dos cobradores devido à adesão do autoatendimento.

 

Esses são alguns dos problemas enfrentados pelos portadores de deficiência. É notório que faz-se necessário uma adaptação, reeducação e conscientização por parte da sociedade para que a eliminação de barreiras humanas e físicas seja feita e, de modo consequente, a inclusão seja realizada com êxito.

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Porém, hoje a realidade é outra, ela afirma que não encontra mais dificuldades há cinco anos “pois todos os ônibus são adaptados”, mas relembra que “era humilhante esse tempo”. Vera também se queixou que nos ônibus só há uma vaga para cadeirantes e, quando já está ocupada, ela tem que esperar o próximo e acaba se atrasando.

Foto reprodução: David Brasilio

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