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A EXCLUSÃO DOS IDOSOS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

DESAFIOS DA TERCEIRA IDADE

Avanços tecnológicos, descobertas científicas e constante evolução da sociedade permeiam o século 21. Ao longo da Margem social, aumenta o crescimento das desigualdades e problemáticas, entre elas, a desvalorização da pessoa idosa, desenvolvidas através de preconceitos e discriminações. Segundo a Organização Mundial da Saúde, nas próximas décadas o número de pessoas com mais de 60 anos no planeta vai passar de 840 milhões, para cerca de 2 bilhões até 2050.

 

No Ceará, um estudo feito pelo IPECE (Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará) revelou uma estimativa para população. Se calcula que até 2060, aconteça um aumento na taxa do número de idosos e redução na de jovens, o desafio será promover e assegurar o bem estar e os direitos dessa parcela da população que é tão marginalizada e vista como um fardo para a sociedade, enfrentando diariamente diversas dificuldades em sua rotina.                                         

  

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    Em entrevista com a aposentada Maria Nair Cabral da Silva, 82, ela nos conta como sua rotina mudou depois de ter sido diagnosticada com deficiência motora nos membros inferiores. “Tem sido difícil manter o hábito de ir à igreja todos os domingos sabe, muita coisa mudou, eu enfrento muitas dificuldades por que não to boa sabe? dos joelhos, dos pés, eu ando, mas é no meio do asfalto, porque as calçadas, é alto, e é baixo, e é alto, para mim fica complicado né ”. 

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  Além das dificuldades de locomoção, Dona Nair, como prefere ser chamada, comenta ainda sobre o perigo de ser idosa em uma cidade tão violenta como Fortaleza. “Ainda esses dias espancaram um senhor de idade no   calçadão da Beira Mar né, então, se um ladrão estiver na minha direção e ele observar que tem um homem ao meu lado, ele com certeza deve vir em mim que sou mais frágil e eu não tenho como me defender.”

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   Ao longo da vida, Dona Nair teve sete filhos, um faleceu, e os outros seis se revezam em dias da semana para visitar a mãe, por muitos anos ela morou sozinha, e hoje, por decisão conjunta da família, mora com seu filho mais velho, Vanderlei Cabral da Silva, 52, sua esposa e seus dois filhos, que explicou o porquê dessa decisão. “Chegou o momento que nós vimos a necessidade maior de ela ter uma pessoa para acompanhar, por conta da idade, e por conta das dificuldades que uma pessoa na idade dela passa a ter”. A dificuldade de locomoção e a exposição ao perigo é algo preocupante para a família. A necessidade de atenção dobrada, não é um privilégio para Dona Nair, mas a necessidade da grande maioria dos 29 milhões de idosos que representam cerca de 14% da população brasileira segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Um levantamento feito pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, revela que ano passado, o disque 100 registrou um aumento de 13% no número de denúncias sobre violência contra os idosos em relação ao ano anterior. A situação ainda se agrava ao analisarmos o registro das denúncias que aponta cerca de 60% das agressões sendo cometidas por filhos e netos. 

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   Militão Soares, é professor pela Universidade Vale do Acaraú, e comenta: “Na verdade a falta de amor, se tornou um problema de saúde pública que acaba se traduzindo em desestabilidade emocional, e algumas vezes essa falta de estabilidade faz que com filhos e netos agridam seus parentes. Agora, esses quesitos já se inserem em outro mote, que é o da carência emocional, um problema que afeta a sociedade como um todo e se reflete em situações como esta”.

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   O mal convívio com a pessoa idosa é presente na sociedade desde o começo, quando escravos idosos eram tidos como inaptos na era colonial, e em seguida descartados, ou mesmo quando após uma série de conquistas trabalhistas em meio a protestos e revoluções, a pessoa idosa continuou sendo rejeitada pelo mercado de trabalho em meados do século 20. Seja como profissional ou parente, a pessoa idosa tem um longo histórico de exclusão por parte dos mais jovens. Fato este que é tido como tema de debate em vários âmbitos sociais. 

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Taiana Queiroz, 27, cientista social e especialista em história do Brasil pela Universidade Federal do Ceará, explica como o preconceito e a discriminação da pessoa idosa estão arraigados em nossa sociedade.

 

“Essa exclusão se dá porque desde o início existiu um movimento de desvalorização da pessoa idosa que resvala desde a idade média até os dias atuais. Outro ponto que a gente pode também salientar, é que boa parte da sociedade tem a pessoa idosa como um fardo, algo inútil, que atrapalha”.

Com o avançar das tecnologias e modos de convivência, os vínculos e classificações de status sociais se tornaram mais complexos, como também mais distantes da terceira idade. Com jogos eletrônicos e a diversificação de linguagens,  ou criação de novas gírias e vocabulários, o relacionamento de pessoas mais velhas com a juventude, se torna uma realidade cada vez mais rara. A geração que se desenvolve em ágeis e pulsantes canais de comunicação, não é local de convívio da terceira idade. Taiana Queiroz ainda continua, “É que o idoso tem um certo receio, tanto para conversar, questionar, ou mesmo desenvolver relações com um adolescente por exemplo, o que está acontecendo é que esse jovens estão cada vez mais envoltos em suas bolhas sociais, em seus jogos, e isso acaba distanciando mais ainda eles da terceira idade.” 

   

   Porém, nem tudo parece estar perdido. Na contramão do que expressa a grande maioria da sociedade, iniciativas públicas e privadas resistem para que a esfera social da terceira idade seja respeitada e valorizada de maneira humana. É o caso do Programa Viver - Envelhecimento Ativo e Saudável, uma iniciativa do Governo Federal, o projeto tem como objetivo ampliar oportunidades, promover a inclusão digital e social e assim resgatar a autoestima do idoso. Ainda nesse sentido um movimento global promove o dia internacional de prevenção à violência contra a pessoa idosa no dia 15 de junho. 

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   Em nível local, encontramos no Ceará, projetos como o Lar Três irmãs, uma ONG com duas sedes, uma em Caucaia e outra em Fortaleza, coordenado por Thaynara Almeida. Ela nos conta um pouco sobre a instituição e algumas queixas apresentadas pelos idosos que residem no abrigo.

“Nós atendemos ao todo 55 idosos, quem mantém a instituição são os próprios idosos, com a receita que a gente consegue recolher deles, ficam 70% para o aluguel, água e luz, mais o pagamento dos funcionários que não são voluntários e o restante é revestido para o próprio idoso, para medicações e necessidades específicas, toda nossa parte de alimentação, higiene pessoal, material de limpeza são através de doações.”

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O Lar acolhe idosos em vulnerabilidade social e em geral, 80% deles já vem encaminhados de órgãos de proteção ao idoso e 20% vem através de um cadastro próprio da instituição onde acolhemos idosos de famílias que passam por algum tipo de dificuldade no cuidado e manutenção desse idoso, mas também existem casos de idosos que já vem de outras instituições, onde não tinham um cuidado efetivo, geralmente ele possuem problemas de saúde como alzheimer, demência ou algum grau de dependência. A maior queixa desses idosos é a solidão, o abandono familiar, dói em mim ver essa falta de sensibilidade, de amparo, o individualismo excessivo acaba acarretando essa falta de conscientização.” Comenta Thaynara.

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Espera-se dos poderes públicos uma resposta urgente quanto a necessidade de atenção que exige o tratamento da terceira idade ainda hoje, tentando enxergar um futuro mais justo e próspero para os idosos. 

Desafios e problemáticas da terceira idade, em uma conversa.

Conheça uma das instituições que prestam serviço a preservação da boa qualidade de vida da pessoa idosa.

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